No passado sábado, dia 23/02/2019, no Hotel do Caramulo, decorreu o seminário “Caramulo e Patrimónios: caminhos e desafios para um desenvolvimento sustentável”, organizado pelo CEISCaramulo em parceria com a Câmara Municipal de Tondela, que teve como propósito promover o debate de ideias e a procura de “caminhos” de desenvolvimento sustentável para o território da serra do Caramulo.
Este debate começou bem antes do seminário. A rádio Emissora das Beiras entrevistou, nas semanas que antecederam o evento, os presidentes dos municípios com território na serra do Caramulo e o coordenador da ADICES, com o intuito de saber quais são as ideias e os projetos para o presente e para o futuro, quais são as ações concretas em execução e planeadas para o território da serra do Caramulo. As entrevistas foram emitidas na rádio, nos dias anteriores ao seminário e foram partilhadas na documentação entregue aos participantes. Todos os autarcas são unânimes em considerar a serra do Caramulo como uma oportunidade, como um território com muito potencial que urge preservar e valorizar.
Na sessão de abertura, o presidente da câmara de Tondela, José António de Jesus, frisou a importância de se conciliar o desenvolvimento e a sustentabilidade, tendo destacado alguns dos investimentos e projetos para o território, nomeadamente a requalificação das redes de água e esgotos, a reabilitação dos jardins Dr. Jerónimo Lacerda e do Parque do Sameiro, a valorização dos Viveiros com novas valências centradas no campismo/caravanismo, o projeto “aldeias de Montanha” para o Jueus e a reabilitação de edifícios que outrora serviram de sanatórios e que, como é o caso do edifício Santa Maria, em breve será reconvertido para aumentar a oferta habitacional.
No primeiro painel o presidente do CEISCaramulo, Luís Costa, apresentou o filme “Caramulo”. Este filme surgiu no desenvolvimento dos trabalhos elaborados nas oficinas de formação de professores sobre “A Serra do Caramulo como recurso didáctico”. Estas oficinas de formação decorreram no ano passado, envolveram cerca de 60 professores de todas as áreas disciplinares e de várias escolas de vários concelhos, e resultaram da parceria com o agrupamento de escolas de Tondela Tomaz Ribeiro, o Centro de Formação CFAE-PB e a Câmara Municipal de Tondela. Foi graças ao patrocínio da empresa ENERGETIX, que o CEISCaramulo conseguiu concretizar a ideia. O filme “Caramulo” pretende ser uma abordagem aos patrimónios da serra do Caramulo, um ponto de partida, um aguçar do apetite, um convite a conhecer este território. Será um conteúdo a explorar no Posto de Observação da Natureza do Jueus, em contexto de visitas e em acções de formação e de divulgação sobre a Serra do Caramulo.
Os palestrantes dos vários painéis consolidaram a ideia de que o património da serra do Caramulo é rico e diversificado e que o desenvolvimento do território passa necessariamente pelo conhecimento e preservação deste tesouro e pela sua gestão racional e inteligente, para que possa ser gerador de mais valias significativas para as pessoas que habitam as aldeias da serra, de modo a fixar populações e a atrair novos residentes e investidores.
No painel “O cabrito, potencial gastronómico e ambiental”, Cidália Bernardo, da Confraria do Cabrito e da Serra do Caramulo apresentou o cabrito e a gastronomia como dois termos que se misturam desde há longos séculos. Iguaria de enorme grandeza, que outrora conseguiu unir povos e religiões e hoje continua a juntar famílias, amigos, conhecidos e desconhecidos à sua volta, criando ligações para a vida. As pastagens que servem de alimento a esta espécie e a forma como o fazem, auxiliam no processo de limpeza e manutenção das paisagens campestres. Com investimentos nesta área, criam-se sinergias que irradiam um potencial económico, gastronómico e turístico, que concorre para a criação de postos de trabalho e, consequentemente, para a fixação de recursos humanos.
No painel “Festas e romarias – caminhos da Festa das Cruzes/Ascensão e a Senhora do Guardão”, o padre Luis Miguel Costa, natural do Caramulo e pároco de São João de Lourosa, salientou que o presente Seminário centra-se no Caramulo e nos seus patrimónios sob o prisma da melhor orientação para um verdadeiro desenvolvimento sustentado. É um tema de enorme relevância e que se agiganta à maneira destas excelentes serranias altivas. É de presente, e sobretudo de futuro, que se pretende reflectir e projectar, na certeza de que este movimento não se processa sem uma consideração iluminada e constante do passado. De facto, a simples etimologia de património enuncia, ao mesmo tempo, a herança por direito recebida do pai e o dever de a administrar, e até de a acrescentar e potenciar, para o hoje e para o amanhã, para a geração presente e para as vindouras. A história do património, respigando o melhor do génio do Padre António Vieira, há-de ser sempre a história do futuro.
Não é difícil, para os espíritos mais atentos, aqui identificar – ou simplesmente sentir sem maiores explicações – uma certa sacralidade natural que dimana das pedras, das árvores, das águas e ares, dos animais e névoas, do mistério dos avós, do encontro do céu e da terra no ponto de fuga do vastíssimo horizonte… E num esplêndido enlace, nada herético ou cismático, chegou e chega a fé cristã. O seu calendário, e muito mais o seu especial ideário, tem dado e recebido peculiar ritmo destas gentes e terras. A celebração da fé, concretizada em festas, romarias, costumes e tradições, alia, harmoniosa e curiosamente, os mais rectos cânones emanados de Roma e o mais indizivelmente ancestral e genealógico.
Na freguesia de Santa Maria do Guardão, de ilustres pergaminhos e, porque não sublinhá-lo, cabeça histórica de toda esta magnífica Serra, destaca-se a Festa das Cruzes, ou da Ascensão, e o culto a Santa Maria, a Senhora dos Milagres e da Assunção. Ascensão e Assunção… um mesmo movimento ascendente que convida a olhar atentamente o Alto que atrai e intercede, sem deixar de considerar o Baixo e o seu bom desenvolvimento e genuíno progresso. Também por estes caminhos cruzados se cresce, colhendo e semeando o merecido e saboroso pão da boca e do espírito.
O painel “Valorizar a identidade dos territórios através do contributo do design: o exemplo das aldeias do Xisto” foi dinamizado por Nuno Dia da Un. de Aveiro – ID+; Rui Simão da ADXTUR; João Nunes da Un. de Aveiro – ID+ e Daniela Lopes, designer.
Foi apresentada a trilogia «Água Musa», «L4Craft» e «Agricultura Lusitana», projetos que o designer João Nunes idealizou e coordenou com Rui Simão e a ADXTUR. Estes projetos dão-nos conta do potencial que a disciplina do design tem quando se articula com a gestão com um desígnio partilhado. Celebrado pela sociedade industrial, o design e o seu ensino é quase sempre pensado através de uma ideia de urbanidade. Mas, e nos meios rurais; nas quintas e aldeias? Outrora desertadas e esquecidas, quantas aldeias de pedra e os seus campos, poderão hoje despertar novos imaginários e desejos? Estaremos hoje a assistir ao surgimento de uma nova geração de amantes da natureza, muito mais expressiva, em Portugal e no mundo? Qual o papel para o design e seu ensino no planeamento e actuação projetual em territórios onde montanhas entrecortam vales com aldeias, minifúndios, agro-florestas e rios? Foi em torno destas e outras questões que, a partir do exemplo das Aldeias do Xisto, os palestrantes conduziram a reflexão. A designer Daniela Lopes, natural de Pedronhe/Caramulo, apresentou o trabalho desenvolvido no âmbito da sua dissertação de mestrado e que deu origem ao projecto «respirar Caramulo».
O painel “Ambiente e desenvolvimento sustentável – caminhos que se cruzam”, foi apresentado por Margarida Morgado docente da escola secundária Viriato (ESV) e Pedro Ribeiro diretor da ESV, ambos com trabalhos de investigação, mestrado e doutoramento no território da serra do Caramulo. Na reflexão apresentada salientaram que a riqueza dos patrimónios geológico, biológico e paisagístico existentes na Serra do Caramulo é reconhecida e tem sido explorada ao longo do tempo. A sociedade atual tem vindo a criar enormes pressões na exploração destes patrimónios na região, pelo que se torna necessário refletir acerca dos caminhos que é necessário percorrer para os potenciar, mas, e em simultâneo, promover a sua conservação. São muitos os exemplos, na Serra do Caramulo, que permitem constatar ser possível conciliar o turismo com o desenvolvimento sustentável da região. Há, no entanto, percursos de reflexão e de intervenção a fazer que podem ajudar a potenciar toda a região caramulana e a promover a sua sustentabilidade. E concretizaram, o turismo, a saúde e bem-estar, a gastronomia, o desporto de natureza, os percursos pedestres, a agricultura, o artesanato, as festas e romarias, o estudo da biodiversidade e da geologia para fins académicos e didáticos, a importância da conservação de habitats e espécies ameaçadas; foram alguns dos temas explorados e que podem constituir-se como caminhos consistentes de desenvolvimento sustentável para este território.
É importante que o debate continue e que os vários responsáveis com poder de decisão e de intervenção, avancem com projetos concretos, que envolvam os vários municípios com território na serra do Caramulo e que se construa e implemente uma verdadeira estratégia de desenvolvimento sustentável para esta região. As populações que a habitam merecem-no e quem a visita também…
O CEISCaramulo agradece a todos os que tornaram possível este seminário:
Em 1.º lugar aos conferencistas que tão brilhantemente nos mostraram “caminhos” possíveis para o desenvolvimento sustentável deste território da serra do Caramulo; à CMT, ao Sr. Presidente, Dr. José António de Jesus e ao Sr. Vereador Pedro Adão pela parceria e toda a colaboração prestada; à ENERGETIX pelo patrocínio do filme; à Rádio Emissora das Beiras pela divulgação e à jornalista Marta Catarina pela pronta colaboração na entrevista aos Sr.s presidentes de câmara, a quem agradecemos também; ao AETTRibeiro e ao seu diretor, Dr. Júlio Valente; à Junta de Freguesia do Guardão e ao seu presidente António Ferreira; à Confraria do Cabrito e da Serra do Caramulo; à ADICES, e ao seu coordenador, Dr. João Carlos; ao CFAE-PB, e à sua diretora, Dr.ª Rosa Carvalho; à empresa 2Play que realizou o filme “Caramulo”; à RVJ que ofereceu a documentação entregue aos participantes; ao Hotel do Caramulo que acolheu o seminário.
Bem haja a todos
Luís Costa e Henrique Costa












